quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Eu não tenho um título
ap.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
[...]
ap.
Desquite
Pois para você eu escreveria cartas fazendo o seguinte apelo e lhe cobrando a seguinte confissão: Quando estiver sendo incendiado peça uma mão que você possa sustentar porque morrer num fogo queimado é o mesmo que reutilizar lágrimas de uma tarde de nada.
ap.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Só não preste o favor da atenção
ap.
Segredos de cozinha
ap.
sábado, 4 de setembro de 2010
Os olhos de Marla
ap.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Querida querida
ap.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
O lancinante sabor diuturno
ap.
domingo, 29 de agosto de 2010
Havia a leve inquietação de ser ela mesma
ap.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
É só
ap.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Apoucado
Irene aponta a arma desajeitada contra o peito dele, amadora não pensa mais nada além de atirar, tinha um plano bom, avaliado por ela mesma, mas agora tudo parecia balela desnecessária. A única coisa que deseja é matar, que se dane os detalhes, como o crime ou o afeto renegado que sente pela asquerosa vitima. Uma barata de sangue estranho. A vida tem suas ironias e Irene descobrira uma das, mas era sempre tão antipática, nunca dava risada com piada nenhuma. Ouve-se um grito grave de revolver no banheiro, chuveiro ligado.
Barulho mais alto que o corpo nu no porta-malas. Irene escorrega os dedos na folhinha pendurada no retrovisor, vai levá-los ao nariz e antes que isso aconteça, percebe seu dedo sangrar estranhamente. Uma barata de sangue estranho.
ap.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Porque ninguém é de ferro
- Alô?
- Dona Socorro?
- Margarida minha querida filha, há quanto tempo que não liga. Betinho anda bem, não se preocupe.
- Anda é? Anda por onde?
ap.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Celebrando a morte
- Você morreu.
- Eu morri?!
- Eu a matei.
- Você me matou?!
- Não foi o que eu disse?
- Eu já te disse que não é pra andar me matando a toda hora.
- Já disse... Eu sei... “Que isso tem de ser feito com gosto”.
- Quantas vezes essa semana? Duas? Três?
- Quatro.
- Pois é. E nós voltamos pra cá quando você me mata e eu não gosto nada desse lugar, passar pela morte é ate agradável você sabe, mas quando se chega aqui, aqui as coisas são diferentes e voltar dói demais. Dói demais pra você ficar me matando a toda hora.
- Mas eu gosto tanto de te matar.
- Eu gostaria de te matar se podesse, mas as coisas andam difíceis, você sabe, matar não é mais como antes e sentir o gosto disso também não. Olho pra você e sinto um leve desejo de matar, mas logo em seguida me vem a lembrança da dor que é voltar nas quatro vezes por semana e tenho dó de ti, sendo assim, não te mato. Se não te mato é por pena, pena de mim mesma.
- Coitada de você.
- Coitado de você. A pena que sinto por mim me leva a tua pena que é pagar pela abstinência da morte por quatro vezes na semana. Por que fala tão pouco aqui? Então é verdade que quem morre fala muito, fala mais que o vivo sete dias por semana.
- Falo pouco mesmo, você fala demais ate viva por três dias na semana.
- Sábado, domingo e segunda. Vivo sempre estes dias. Por que nunca me mata em dias diferentes? Eu ate gostaria de ver as cores da terça-feira e o clima da quarta-feira. Viver na quinta é meu sonho. A sexta eu descarto, as pessoas veneram demais esse dia, não quero, não gosto do que gostam.
- Você ia gostar da sexta.
- Que tem a sexta?
- Álcool e vida.
- Não quero vida na sexta.
- Então só tem o álcool.
- Eu não bebo.
- Conta outra.
- Quero a quinta.
- Não posso deixá-la viver na quinta, na quinta faço mil coisas, ando muito ocupado na quinta.
- Mentira.
- Não é.
- Vamos voltar. Aqui eu falo demais. É muita quinta pra uma sexta.
- Ainda não, fala. Eu presto atenção. Aqui tenho o tempo que não tenho de quinta.
- Você é de quinta.
- Obrigado.
- Quinta categoria.
ap.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Ardil
ap.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Agradecimentos ao meu triste pássaro falecido
Minha vida começou em 10 de janeiro de 1964, eu fazia doze anos e cinco dias à meia noite. Minha cabeça pendia pra um lado enquanto meus cabelos pro outro, meus olhos fechados enquanto eu respirava maresia. Maresia, inebriante maresia. O que aconteceu? O fato é que minha vida começou. Como? Nem me pergunte, não quero nem imaginar. Tenho outras coisas a fazer, desculpe. Feche a porta quando sair, por favor. Obrigada.
ap.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Number 8, Pollock
Quando parar de parar por um tempo, eu aviso. Te mando uma carta, um bilhete ou te ligo, certo? Quando eu parar com isso também, eu mesmo vou até aí só pra te dizer cara-a-cara que dar um tempo nas coisas às vezes é bom mas nem sempre funciona... Quem sabe eu não paro com todo o resto de uma vez? É, eu parei mesmo.
ya.
Lieux mystérieux
ap.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Chile
Esse texto fala sobre levar o café da manhã na cama para alguém que mesmo provocando os seus próprios resfriados ainda o ama.
ap.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
A pintura do universo era natureza-morta
ap.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
A versão sem cortes
André pausa bem na parte dos olhos pintados e aperta play. Volta. Pausa outra vez na mesma cena e aperta play. Mas que desejo foi esse o da Martha? Seria algo em outra língua? As aulas de latim estavam indo bem, ela disse. André nunca saberá que naquele dia Martha agradecera pelo ano passado, o dia em que André lhe deu um CD com músicas gravadas para a viajem longa até a praia. Acontece que era pra fazer um pedido. Acontece que Martha só tinha a agradecer.
ap.
domingo, 25 de julho de 2010
Caio F. Abreu
-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
O olho de quem vê faz os olhos que vê
No escuro eles brilham como pedra fosca de capricórnio, foi por essas pedras que procurei. Meu bem, estranho eu querê-los pendurados no meu pescoço como amuleto que me traga sorte.
Logo à tarde eles me sentem num misturado de ditos e pré-ditos, não-ditos. Eles caem na perdição do pôr-do-sol, cor de luxuria embora seja bom no sentido dos ditos pelos seus, pelos meus.
O olho de quem vê faz os olhos que vê.
ap.
Abre a janela e vê se o vento chegou
Para as coisas da vida as inexoráveis levezas do ser, dou-te os implacáveis amores de fato e o cimento cinza da calçada que tudo vê.
ap.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Liebe
Ele estende para mim entre seus dedos amarelos e queimados um cigarro. Eu o acomodo entre meus dedos virgens. Meu alemão não é tão bom, mas... ich liebe es.
ap.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Salvadora
ap.
Vera e as escadas
...Que escada enorme que não acaba mais. Espero que ele não esteja a me observar, não olharei para trás, desculpe, não olharei. Seria uma entrega das grandes. Seria colocar um “mas” a tudo que disse há pouco. Um “mas” só serve para nos desmentir. Eu gosto de você, mas. Eu quero, mas. Eu estou aqui, mas. Eu sei, mas. Mas. Mas. Mas. Mas. Deveria ser uma palavra proibida...
Olhou para trás e subiu de volta as escadas correndo, cuidado para não tropeçar, mas.
ap.
domingo, 18 de julho de 2010
Suportarei até que seja o pior pela mais bela visão
ap.
sábado, 17 de julho de 2010
O sangrar sem limites
Você olha pra rua e tenta enxergar, você esqueceu os óculos do lado da cama, do lado do copo com água, do lado dos comprimidos, do lado da foto antiga, do lado do abajur sem luz. Eu te pergunto, você sangrou? Pingou sangue por todo o lugar, você sujou com sangue até quem não deveria sujar? Sangrar não é maligno, é o indispensável da vida. Sangrar não quer dizer que você morre, e sim que vive.
Você pisou nos cacos de vidro? Porque quando se quebra um copo, é bom pisar nos cacos... E então sangrar.
ap.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Assim como
E sempre que um ou outro ia embora se buscava as palavras para mais além do limite das mesmas que resultava em despedida cheia de inclinação. Tudo calha o além perante um limite.
ap.
Elaland
ap.
Quando é nunca
ap.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
...
ap.
∞
ap.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Quando você não consegue
ap.
domingo, 11 de julho de 2010
Juntos
ap.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Como se(m)
ap.
domingo, 4 de julho de 2010
E assim fez-se uma bola
- E é nisso que eu estou pensando toda essa tarde, querido Deus. Um mundo primoroso e divertido.
ap.
sábado, 3 de julho de 2010
Os chicletes de tutti-frutti, são os piores
Chegando em casa abaixou-se em frente a porta do vizinho e espiou por debaixo dela, sua curiosidade era tanta que chegava a ser bem repugnante, criança chata e intrometida, era o que diziam. Como não viu nada, se levantou. Estava com vontade de outro chiclete. Entrou em casa, atirou os tênis em qualquer lugar, andou arrastando as meias no chão, atravessou o corredor, entrou no banheiro e fechou a porta. Se ajoelhou e rezou.
ap.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Menos que uma melancia e mais que uma uva
ap.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Reticências antes e depois
ap.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Caleidoscópio
ap.
terça-feira, 29 de junho de 2010
Chesire
ap.
La bruja
ap.
domingo, 27 de junho de 2010
Emoções de cozinha
ap.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
A falta
ap.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Desatino
ap.
Clarice Lispector
sábado, 19 de junho de 2010
Bilhete
Quero te contar que nos dias que estão frios, você pode considerar como os dias sem você, são nublados eles todos, me deixa um medo bobo de nunca mais voltar a ser o que era, o que era com você ou antes de você, pra mim tanto faz, mas o medo de continuar assim persiste nesses dias frios, neles eu tomo um café bem quente, tão quente de queimar a língua, faço de propósito para tentar fazer da vida uma vida normal, não essa perfeição que é viver sem você.
Com fervor, Heide.
Ps: A normalidade é real e a perfeição é uma mentira.
ap.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Sua resposta está E...RRADA
Alguns dias atrás. Horas. Não sei, não lembro:
- E eu, o que quero dizer com inclinação?
ap.
terça-feira, 15 de junho de 2010
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Não espero milagres
ap.
Respectivamente
ap.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Medo
ap.
sábado, 5 de junho de 2010
Meio a meio
Ele me perguntou bem assim, em tom de reprovação precipitada sabem?! Como era um bom ator, meu pai que o diga. E eu queria responder que ando mesmo com os diabos, ando meio atordoada, assustada com qualquer coisa, mas eu nunca gostei mesmo de palhaços, pois é. Nunca gostei de palhaços e as lagartixas são asquerosas, afinal, o rabo delas cresce mesmo de volta, descobertas de criança que tenho nessa idade, uma vergonha eu diria. E queria mesmo até responder que ando com vergonha. Eu queria responder onde eu queria estar. E eu até responderia que queria continuar andando com os diabos, assustada com répteis pequenos, e evitando ir ao circo. Mas é que depois daquele momento quase imperceptível, aquele entre o dormir e o acordar, eu descobri que há alguns minutos eu já não andava com os diabos, nem os répteis me faziam pular pra cima da cadeira, nem os palhaços me atormentavam mais. E eu finalmente pude responder que, eu respondi que, eu prometi que, eu apenas sabia o que era que eu, eu... Eu ainda não respondi.
ap.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
A resposta não é "divergentes"
ap.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
101
ap.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
▲
E o que havia entre minhas pernas até um dia atrás se foi feito poeira quando bate um vento no piano, vai embora e some. Some. Mas é porque era um desejo sujo, medíocre. Essa parte suja do desejo que me fazia bambolear, me deixava louca até arrancar todos os fios do cabelo. Era assim mesmo, acredite. Tudo estava indo de um jeito pirado até o fundo do poço, eu estava mesmo caindo? Ah, mas foi só porque tropecei numa pedra logo a beira do poço. Essa pedra acabou caindo dentro do meu sapato, e eu no poço com o sapato. Sapato, pedra, poço.
ap.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Votos de casamento
ap.
Diástole
Essa eterna diástole. Acredite, é eterna. O tempo parou, minha mão rebolou pelo vento e fui até sua casa, o caminho nem parecia escuro, visto que antes eu sempre precisava de algo para iluminar, uma lanterna, uma lamparina, o que fosse. Via agora o caminho todo, e as cores até mudavam, algumas vezes estava laranja, outras vezes azul, gostava dos dias em que estava azul, me lembrava o céu ou alguma pintura de livros infantis. O que eu quero que você entenda é que o céu do caminho até sua casa era iluminado, não o caminho em si, mas o céu. Isso não é delirante? A dádiva de algo supremo fez com que eu enxergasse tudo até sua casa. E até quando estava quase lá, passava pelo jardim e parava por alguns minutos tentando em sorte ver um vaga-lume, ver outra vez. Mas sabe... Eu parecia ter só azar, que parecia não acabar. E foi quando num caminho azul no minuto sete, parada em frente ao jardim já quase sem esperanças, já pensando pronunciar a palavra mais suicida possível: Adeus. Foi nesse minuto que eu vi um brilho discreto e alucinante, algo de outro mundo, nosso mundo, um vaga-lume no jardim passeando pela grama verde azulada. E então quero que você pense...
Pergunte-se porque eu ia a tua casa sempre à noite, pergunte-se.
ap.
sábado, 22 de maio de 2010
Estrangeiro
E é o que estranho quer dizer. Estranho quer dizer estranho.
Na malícia de encontrar um sinônimo encontro a decepção. Sinônimos não existem, sempre querem dizer a mesma coisa, como rodear um circo de estranheza. Circo estranho, estranho circo. Dá no mesmo. Mudamos as palavras, escondendo as verdadeiras, escondendo-as bem atrás de um circo de estranheza. Circo esse que por ser tão estranho é estranhamente um circo inexistente. Colocando ênfase a cada sinônimo que procuro. Que é o que estranho quer dizer.
ap.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Levavam...
ap.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Porque eu sou poucas palavras
ap.
domingo, 16 de maio de 2010
Nós somos íntimos sem ser
- Beijo.
- Espera.
- Que...
- Você me conhece?
- Claro.
- Quem eu sou?
- Eu não sei.
- Você me conhece?
- Claro.
- Quem eu sou então?
- Você é você.
- Não tem outra resposta melhor?
- Tenho.
- Me beija.
- Não.
- Por que?
- Porque eu tenho outra resposta melhor.
- Saber que uma resposta melhor existe em seu ser basta.
- Basta?
- Me beija.
- Beijo.
- Espera.
- Que...
- Eu não o conheço.
- Eu achei que sim.
- Pois é... Não.
ap.
sábado, 15 de maio de 2010
Cannabis
- Quero sentir o doce do cheiro.
- Tem um isqueiro?
Porque você sempre entende muito mau o que eu falo.
ap.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Quinta-feira 12
Começar a devorá-la por abrir primeiramente e tirar o delicado recheio, comê-lo e depois com um olhar desolador engolir as outras duas partes que sobraram secas e duras. Poupe-me, é ridículo e sim, estou desmerecendo os que fazem. Inclusive eu. Porque todos optam pelo caminho mais curto, sem mais demora, sem mais esforço. Caminham certo e quando se deparam com o atalho, pisam na grama, passos longos para que ninguém perceba. Poupe-me, é ridículo e sim, estou desmerecendo os que fazem. Inclusive eu. Porque todos gostam de tapar o sol com a peneira, fazem de qualquer jeito, moldam o que já não precisa ser moldado, reparam problemas irreparáveis, perdem tempo com choros inconsoláveis, fazem o que não deve e quando devem não pagam. Poupe-me, é ridículo e sim, estou desmerecendo os que fazem. Inclusive eu. Porque todos sempre gostam muito mais de confundir, a luz no fim do túnel na verdade é sempre um farol do carro preparado para te atropelar. Poupe-me, é ridículo e sim, estou desmerecendo os que fazem. Inclusive eu.
Quebrei eu mesma o outro farol, e foi só pra te confundir. Talvez era mais de meia noite quando passei pelo túnel deixando seu corpo inerte.
ap.
Volta
ap.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
...
ap.
Para um dia ruim que foi bom
ap.
Tente
- Porque um beijo?
- Porque é o que as pessoas fazem quando querem ficar juntas.
- Você não é como todos.
- Então sou o que?
- Apenas diga algo diferente.
- Mas eu quero te beijar.
- Tente.
- Passaria longe da sua boca. Consumiria o seu ser. Tentaria entende-la como a uma obra prima. Adormeceria com o cheiro de tinta que você emana.
- Faça.
- Você não está aqui.
- Eu até esqueci.
ap.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Canelas, caneladas
Venha envolto num papel transparente e te chamarei de canela.
ap.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Passos para sair da minha vida
ap.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Preciso de sinônimos para me esconder
ap.
sábado, 8 de maio de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Mania de "pôr-do-sol"
ap.
Caio F. Abreu.
-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Por engano
Já são mais de três chamadas que perdi tentando acha-lo, o telefone. Entrei em quase todos os cômodos do apartamento, quando lembro... Cozinha. Chego rapidamente ao aparelho, tiro-o do gancho e sem mesmo escutar ou irromper com um alô ele começa a falar:
- Eu... Eu estava pensando em ir aí... Pois é. Eu preciso dizer, não importa mais, antes que você vá, antes que, tudo acabe pra você, eu preciso dizer que... Só espere um minuto e eu logo estarei na soleira da sua porta.
E antes que eu pudesse ao menos pensar em fazer algo, pensar em dizer que aquele não era mais o telefone de quem ele pensava ser, que era um incrível engano, que aquele homem já tivera seu coração partido, desde uma semana atrás quando a antiga moradora de meu atual apartamento se fora para bem longe, quem sabe. Antes que eu tomasse alguma posição, ele desligou. Sem ação, recoloquei o telefone no gancho, encostei-me na parede. Talvez ele desistisse no meio do caminho e desse uma meia volta. Talvez ele morresse no caminho, talvez ele decidisse pular de uma ponte pelo caminho. Mas talvez, só talvez ele viesse. E ele veio. Eu não sei nem quando, nem como, muito menos quem. Não sei quem começou. Só sei que demos início aos nossos encontros. Na soleira da porta, eu ouvinte, ele coração aberto. Sempre pensou que eu era Ela e eu sempre imaginei que ele era Ele.
ap.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Napoleão
Sempre ás seis horas da tarde eu o encontrava em seu ateliê. Sempre ás seis horas o encontrava com um humor distinto. Sempre ás seis horas estava com saudades dele. Sempre ás seis horas ele estava exausto, frustrado, inerte, risonho... Era um artista e artistas não são questionados. Gostava de ficar lhe espiando enquanto a tinta era jogada violentamente contra a tela, ele não percebia isso para minha sorte. E era sempre assim, sempre ás seis horas da tarde eu finalmente entrava na sala, tocava de leve suas costas, apreciando as manchas de tinta em lugares improváveis. Ficávamos ali por um bom tempo, sempre, envoltos num silêncio agradável.
Não sabia ao certo explicar sua arte, mas sempre soube que tinha algo a ver comigo. Até mesmo por parte da ferocidade com que a tinta era aplicada a pintura abstrata, me fazia lembrar de seu olhar vulgar em certas noites, a astúcia que me envolvia por completo me levava noite adentro. A própria utopia da obra me lembrava o desejo de sermos eternos um para o outro. Via-me na tela ainda branca equilibrada em seu tripé de madeira, me lembrava quem eu era antes dele. Orgulhava-me, pois eu era sua musa.
AP.Vai saber...
AP.
sábado, 1 de maio de 2010
Marie Antoinette.
Depois de algum tempo frio finalmente o verão eterno chegou e foram anos de gargalhadas, anos inesquecíveis, o barulho das taças de bebida lhe enchia os ouvidos, as fichas de cores vibrantes lhe chamavam tão suavemente, os desenhos do baralho era em suma tão atraentes, a ópera era digna de aplausos e o cabelo platinado que cobria seus pensamentos e confusões era templo de expressão. E mesmo assim ela nunca para, é como um carrossel, ela pensa que girará para sempre, ela está bêbada e é só uma questão de tempo para que ela vomite no cavalo mais bonito.
E quem poderia duvidar? Quem poderia confiar? Ao som de um rock antiquado com uma taça na mão e uma máscara misteriosa ela fez o destino lhe contar os segredos do amor. Por que falar de amor quando devemos aqui falar da falta de pão? “Que comam bolo então” disse ela despreocupadamente e voltou ao seu dormitório, acompanhada é claro. Mas fatos mudam tudo e o carrossel girou mais algumas vezes, depois disso... Ela sobe por entre flores azul-realeza e amarelo-ouro, meu nome é França, dê-me um cigarro para ignorar, é a rainha assassina que está chegando.
AP.
Beirut.
AP.
Karen.
AP.
terça-feira, 27 de abril de 2010
Bem no pôr-do-sol.
Tirou o casaco úmido e se jogou na minha cama, o gesto é grosso, mas você sempre consegue tornar tudo mais gracioso. Eu não sei por onde você anda antes de chegar aqui, não sei nem mesmo o que te faz passar o dia fora. Isso não me preocupa porque eu sei que você sempre vai voltar. Sempre no pôr-do-sol. Já deitado ao meu lado olhando pro teto vazio, vai tirar as botas sem as mãos, virar de lado e me beijar, me organizar começando por trazer de volta ao lugar uma alça fina do sutiã. Empurrar devagar para trás da orelha uma mecha que insiste em cair nos olhos. Agarrar minha cintura num gesto demorado e me fitar intimamente.
O quarto muda de cor a cada segundo, parece estar em chamas... Parece que estamos mergulhados em suco de laranja... Parece que estamos embriagados dentro de uma gigante garrafa de vinho... E por fim parecemos dois vaga-lumes na solidão da noite escura. Enquanto isso você diz sem falar que sabe muito bem que sou sua, somente sua.
AP.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Ontem, ou foi antes de ontem.
AP.
domingo, 25 de abril de 2010
PF
Não é o bastante para você? Eu achei que seria, por isso trouxe aqui comigo todas elas. Não, não falam de amor, disso é o que menos precisamos. A verdade é que não sei do que falam. A verdade é que não sou sinceramente sincera para pensar sobre o que precisamos, se eu preciso de uma coisa, você com certeza precisa de outra e no fim o remédio é o mesmo. As músicas acabaram sendo esquecidas com essa conversinha de remédio... Então tome logo o seu comprimido e eu irei aumentar o volume do som. Não, não vou tomar o meu agora, é melhor esperar um pouco... Por quê? Porque quero ver o efeito dele em você. Já tomou? Agora vamos esperar e enquanto ouvimos Pink Floyd não vamos falar, por favor, silêncio. Obrigada.
ap.
Azulejos.
AP.
Mar de lantejoulas.
AP.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
É você.
- Pobre garoto. E essa história, para quem é?
- Para você.
AP.
domingo, 18 de abril de 2010
Imaturidade
- Disse o que então?
- Já disse que já disse.
- Você parece uma criança às vezes.
- Você parece uma sempre.
Olho-a indignado esperando mais uma série de defeitos ou um difícil pedido de desculpas, nenhum dos dois, ao invés disso, uma explicação.
- Acabo sempre por lhe imitar, talvez funcione como uma espécie de prova do seu próprio veneno.
Calo. Provar do seu veneno pode ser fatal, dói muito mais do que ela pensa.
AP.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Botas.
Você já se sentiu o solado de uma bota velha?
AP.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Ao seu lado.
AP.
quinta-feira, 25 de março de 2010
O tempo segundo Milésimo.
AP.
sexta-feira, 19 de março de 2010
Duas ou mais coisas que não sei.
AP.
segunda-feira, 15 de março de 2010
As vezes a vida é perfeita...
(do filme: How to deal)
domingo, 14 de março de 2010
Domingos.
AP.
sábado, 13 de março de 2010
Nunca mais.
AP.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Abra seus olhos.
Admita que eu sou um pseudoamor.
AP.
quinta-feira, 11 de março de 2010
Chamei de meu conto.
Eu gritei, berrei, quando me disseram que te amo.
Daqui de cima me sinto respeitável, grande. A cidade é um contraste, é o dia na noite. Estou sonolenta, porém a dor de cabeça não me deixa dormir, depois que me disseram que te amo, não consegui. O vento desembaraça meu cabelo suavemente, o cheiro indigesto da cidade muito abaixo chega até mim e aqui, ao meu redor não existe quase nada, é o meu pequeno espaço. É o meu extremo. Aqui você não cabe. Meus pés estão frios descalços do outro lado da grande vidraça, já minhas mãos e a ponta do nariz parecem mortas. Minhas unhas estão molestadas, meu cabelo sujo há dias, e eu que queria ser ao menos “um mistério” passarei a ser apenas “uma rotina de dor”. Logo eu que era inteiramente garras e sonhos, depois que me disseram que te amo me tranquei e engoli a chave. Desaprendi a descansar e não sou autodidata. Mãos agarradas na parede, no nada; joelhos trêmulos; de estantes em estantes barriga congelada; Dedos dos pés no amplo vácuo entre eu e a cidade iluminada, lá embaixo, toda animada.
O que me conforta é saber que as cicatrizes nos ajudam a lembrar que o passado foi real.
AP.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Sucinto.
AP.