Marlena gostava de fazer tempestade em copo d’água. Arrumava qualquer desculpa pra provocar um belo tsunami na xícara de café logo pela manhã bem cedo. Dizia-se sempre atolada com o trabalho domestico, o tal motivo para tanta reclamação e carnavais fora de época. Mas eu sempre achei que havia motivo maior vindo de dentro, dentro dela esse gosto pelas tempestades. Era um mistério a desvendar, como as historias de Sherlock Holmes, devoradas por mim. E Marlena parecia tão normal, uma dona de casa qualquer. Apenas parecia porque eu sabia que no fundo havia um gosto ainda maior do que pela chuva barulhenta e atordoante. Eu nunca cheguei a descobrir, pois foi justamente ela quem me contou, disse bem simples com voz suave e afinada de dona de casa, passando as mãos delicadas de unhas nuas no bolso do avental: “Eu gosto mesmo é de pedir desculpas”.
ap.
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sem coerência,