quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Celebrando a morte

- O que houve aqui?
- Você morreu.
- Eu morri?!
- Eu a matei.
- Você me matou?!
- Não foi o que eu disse?
- Eu já te disse que não é pra andar me matando a toda hora.
- Já disse... Eu sei... “Que isso tem de ser feito com gosto”.
- Quantas vezes essa semana? Duas? Três?
- Quatro.
- Pois é. E nós voltamos pra cá quando você me mata e eu não gosto nada desse lugar, passar pela morte é ate agradável você sabe, mas quando se chega aqui, aqui as coisas são diferentes e voltar dói demais. Dói demais pra você ficar me matando a toda hora.
- Mas eu gosto tanto de te matar.
- Eu gostaria de te matar se podesse, mas as coisas andam difíceis, você sabe, matar não é mais como antes e sentir o gosto disso também não. Olho pra você e sinto um leve desejo de matar, mas logo em seguida me vem a lembrança da dor que é voltar nas quatro vezes por semana e tenho dó de ti, sendo assim, não te mato. Se não te mato é por pena, pena de mim mesma.
- Coitada de você.
- Coitado de você. A pena que sinto por mim me leva a tua pena que é pagar pela abstinência da morte por quatro vezes na semana. Por que fala tão pouco aqui? Então é verdade que quem morre fala muito, fala mais que o vivo sete dias por semana.
- Falo pouco mesmo, você fala demais ate viva por três dias na semana.
- Sábado, domingo e segunda. Vivo sempre estes dias. Por que nunca me mata em dias diferentes? Eu ate gostaria de ver as cores da terça-feira e o clima da quarta-feira. Viver na quinta é meu sonho. A sexta eu descarto, as pessoas veneram demais esse dia, não quero, não gosto do que gostam.
- Você ia gostar da sexta.
- Que tem a sexta?
- Álcool e vida.
- Não quero vida na sexta.
- Então só tem o álcool.
- Eu não bebo.
- Conta outra.
- Quero a quinta.
- Não posso deixá-la viver na quinta, na quinta faço mil coisas, ando muito ocupado na quinta.
- Mentira.
- Não é.
- Vamos voltar. Aqui eu falo demais. É muita quinta pra uma sexta.
- Ainda não, fala. Eu presto atenção. Aqui tenho o tempo que não tenho de quinta.
- Você é de quinta.
- Obrigado.
- Quinta categoria.

ap.

Um comentário:

sem coerência,