Ele as chamava de Ninfas. Acredita? Ninfas. Aquelas prostitutas da Rua Dezenove eram chamadas de Ninfas pelo Plínio. E bem quando dava meia noite depois de alguns cigarros e pileques, ele balbuciava no bar, "Irei-ver-minhas-Ninfas-queridas!". Eu não me conformava com esse apelido para as meretrizes, Ninfas são seres puros e inebriantes, seres bonitos, coloridos e brilhantes. Aquelas mulheres eram sujeiras do capeta. Eu queria compreender o Plínio, mas não cabia em mim tal inclusão, em minha cabeça sóbria e sã, mulheres de saias curtas e justas e topes a base de lantejoulas, por mais brilhantes que o fossem... Prateados os sapatos de acrílico, dourada a maquiagem nos olhos, por mais que assim o fosse... As ninfas eram mais Ninfas que as Ninfas do Plínio. E eu tentei de tudo, as minhas filosofias sobre entender os pensamentos dos outros estavam já quase por acabar, estava já por desistir de perceber a definição de Ninfas segundo Plínio e deixar pra trás toda essa baboseira sobre “compreender”, sobre ver sentido nas coisas, porque isso no fim é uma bobagem mesmo, é só que eu não tinha mesmo mais nada em que se ocupar, estava desempregado, não bebia nem fumava, me sentia uma aberração de meia idade no bar, sem emprego assim como todos ali, de coração partido como alguns e sem filhos como nenhum, sóbrio e inteligente redescobrindo a mitologia. Recorri então a minha última chance de acerto. Ver pelos olhos do Plínio. Os copos se enchiam rápido assim como eram facilmente esvaziados, nunca havia tragado um cigarro, nem muito menos um amassado, mas dessa vez havia fumaça nos meus olhos e na minha roupa e o cheiro era sufocante, minha garganta lembrava as doenças mais irritantes e eu tossia. De repente minha visão sobre Plínio mudara, perguntei se já haviam o confundido com Leminski, ele riu, revirou os olhos mortos e fez que não com a cabeça. Ver pelos olhos do Plínio era deveras mais divertido. Quem precisa de um emprego, de um coração ou de filhos quando se tem aquela visão sobre o mundo? Meu melhor amigo era Leminski e eu podia ter quantas Ninfas quisesse da Rua Dezenove, aquelas sim eram as Ninfas que deveriam estar nos livros, Ninfas egocêntricas e habilidosas.
ap.
magnífico. Esta é a palavra certa!
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