quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Apoucado

A estrada está vazia, Irene está nela. As rodas do carro giram furiosamente pegando fogo no asfalto fervoroso. A folhinha aromatizada balança descompassada. O chaveiro de prata faz barulho diagnosticado como fino. Não há som no carro, ele foi esquecido há um tempo por já não poder competir com a mente de Irene, a cabeça dela faz barulho demais. Bem mais alto que o tiro há duas horas atrás...

Irene aponta a arma desajeitada contra o peito dele, amadora não pensa mais nada além de atirar, tinha um plano bom, avaliado por ela mesma, mas agora tudo parecia balela desnecessária. A única coisa que deseja é matar, que se dane os detalhes, como o crime ou o afeto renegado que sente pela asquerosa vitima. Uma barata de sangue estranho. A vida tem suas ironias e Irene descobrira uma das, mas era sempre tão antipática, nunca dava risada com piada nenhuma. Ouve-se um grito grave de revolver no banheiro, chuveiro ligado.

Barulho mais alto que o corpo nu no porta-malas. Irene escorrega os dedos na folhinha pendurada no retrovisor, vai levá-los ao nariz e antes que isso aconteça, percebe seu dedo sangrar estranhamente. Uma barata de sangue estranho.

ap.

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sem coerência,