quinta-feira, 6 de maio de 2010

Por engano

Estava eu sentada em frente à TV desligada, esperando nada, ou talvez meu subconsciente esperasse sua ligação. Alternando as pernas de vez em quando, estava eu lá impaciente pela sua ligação que não era esperada. Olhei para os lados, e vi caixas lotadas de coisas inúteis; geralmente guarda-se primeiro as coisas inúteis, é o que todos fazem... Depois se preocupam com as mais importantes, preciso de uma pasta de dentes e um chocolate meio amargo. Passou-se mais um tempo em que eu me encontrava ali, topei com um sinal na ponta do polegar que não sabia que tinha. Quase colocando o pingente pequenino da corrente na boca, escuto um barulho de telefone, devolvo o pingente ao seu lugar e logo que me levanto descubro que não sei onde está o telefone.

Já são mais de três chamadas que perdi tentando acha-lo, o telefone. Entrei em quase todos os cômodos do apartamento, quando lembro... Cozinha. Chego rapidamente ao aparelho, tiro-o do gancho e sem mesmo escutar ou irromper com um alô ele começa a falar:
- Eu... Eu estava pensando em ir aí... Pois é. Eu preciso dizer, não importa mais, antes que você vá, antes que, tudo acabe pra você, eu preciso dizer que... Só espere um minuto e eu logo estarei na soleira da sua porta.

E antes que eu pudesse ao menos pensar em fazer algo, pensar em dizer que aquele não era mais o telefone de quem ele pensava ser, que era um incrível engano, que aquele homem já tivera seu coração partido, desde uma semana atrás quando a antiga moradora de meu atual apartamento se fora para bem longe, quem sabe. Antes que eu tomasse alguma posição, ele desligou. Sem ação, recoloquei o telefone no gancho, encostei-me na parede. Talvez ele desistisse no meio do caminho e desse uma meia volta. Talvez ele morresse no caminho, talvez ele decidisse pular de uma ponte pelo caminho. Mas talvez, só talvez ele viesse. E ele veio. Eu não sei nem quando, nem como, muito menos quem. Não sei quem começou. Só sei que demos início aos nossos encontros. Na soleira da porta, eu ouvinte, ele coração aberto. Sempre pensou que eu era Ela e eu sempre imaginei que ele era Ele.

ap.

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sem coerência,