sábado, 1 de maio de 2010

Beirut.

Se ele fosse ao menos jovem, ele fugiria desta cidade agora, mas ele só bebe morte, somente morte, o copo está quase vazio. Se ele ao menos podesse dançar, mas ele não é mais tão ágil quanto antes, agora só escuta os passos, somente os passos, os ratos no bueiro. Ele queria nadar, queria mergulhar fundo, mas não tem pulmões para mais nada disso, não para nadar, só para fumar. Ele a viu ontem e gostou disso, ele não pode amar, nunca irá amar, pois para ele isso é só uma justificativa para fornicar. Faz um longo tempo, um longo tempo que não briga, ele não tem mais forças, só para se arrastar. Não vai mandar cartões postais, ele não tem dinheiro, não tem nenhum dinheiro, gastou tudo em vento. E se ele cantasse e o mal espantasse? Ele não tem voz, só para papear melancolia. Sua cabeça dói tanto, o que ele fez ontem? Ele não lembra, não lembra de nada, a vodca está no vômito da noite passada. Ele risca o giz na calçada, não quer desenhar, não sabe o que desenhar; talvez sua pobre infância já esquecida, não, ele não pode desenhar. Ainda tem suas pernas, milagre! Ele ao menos pode andar. Se arrastar pelas ruas de Nantes, belas ruas de Nantes.

AP.

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sem coerência,