terça-feira, 27 de abril de 2010

Bem no pôr-do-sol.

A rua canta alegremente porque você chegou.
Tirou o casaco úmido e se jogou na minha cama, o gesto é grosso, mas você sempre consegue tornar tudo mais gracioso. Eu não sei por onde você anda antes de chegar aqui, não sei nem mesmo o que te faz passar o dia fora. Isso não me preocupa porque eu sei que você sempre vai voltar. Sempre no pôr-do-sol. Já deitado ao meu lado olhando pro teto vazio, vai tirar as botas sem as mãos, virar de lado e me beijar, me organizar começando por trazer de volta ao lugar uma alça fina do sutiã. Empurrar devagar para trás da orelha uma mecha que insiste em cair nos olhos. Agarrar minha cintura num gesto demorado e me fitar intimamente.
O quarto muda de cor a cada segundo, parece estar em chamas... Parece que estamos mergulhados em suco de laranja... Parece que estamos embriagados dentro de uma gigante garrafa de vinho... E por fim parecemos dois vaga-lumes na solidão da noite escura. Enquanto isso você diz sem falar que sabe muito bem que sou sua, somente sua.

AP.

Um comentário:

sem coerência,