quinta-feira, 22 de julho de 2010

Abre a janela e vê se o vento chegou

Clara mexe um dedo indicador, range os dentes e abre um olho de cada vez. Clara acordou. Para mais um dia inexoravelmente fácil. Fátima vasculha sua gaveta a procura dos comprimidos rosa, atira cartas fechadas contra a parede. As cartas não eram os comprimidos. Fátima senta no chão e começa a se preparar para mais um dia inexoravelmente difícil. Fonseca molha sua planta de nome até então desconhecido. Ele a chama de Vita. Desde que ela se fora, a verdadeira Vita, Vita outra recebe carinhos insanos, porém inexoravelmente fáceis. Flora bate sem parar os pés na cama branca do quarto branco. Dona branca entra no quarto, uma velhinha de cabelos brancos. Flora sente a visão se desfazendo, seus pés descansam desajeitados. Como queria sair dali e sentir a inexorável facilidade de fumar. Ambrósio deita-se e espera. Espera a roda parar de girar. Espera a morte chegar e acabar com esses inexoráveis encontros e desencontros da vida. Porque para Ambrósio, no fim isso é tudo, Encontros e desencontros. Uma semana atrás Pedro entra no correio e envia silenciosamente um pacotinho com três comprimidos rosa. Dois dias depois, João encontra no lixo os comprimidos preciosos, rosa e pensa. Sua mãe está doente de algo que os vizinhos não sabem explicar. João sobe o morro. A mãe de João até que deu uma melhorada.

Para as coisas da vida as inexoráveis levezas do ser, dou-te os implacáveis amores de fato e o cimento cinza da calçada que tudo vê.

ap.

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sem coerência,