sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Querida querida

Ah querida, porque andas assim? De maneira tão desolada? De braços fechados para o nada e boca aberta em desmazelo porque ninguém a vê, porque apenas pode andar de boca aberta até secar sua garganta pelo vento sujo da cidade suja nesse país sujo dentro bem dentro, bem ao fundo desse mundo sujo. Por que ainda não se matou? Porque ainda não se jogou lá daquele sexto andar do sexto prédio na rua seis? Ah minha querida, querida, querida, querida... Você é minha querida sabia?! Você não se joga de lugar nenhum, nenhum prédio, ponte, escada, o escambau, seja o que for você não se joga minha querida. Você não se mata, não se fere, não se arrisca, não sangra, não vive. Você minha Querida querida, anda só de boca aberta com desleixo sugando o mundo que se mata e se joga e sangra e fere, pura e simplesmente sugando o mundo que vive desapercebendo que você anda de boca aberta espreitando o sujo mundo, mundo sujo. Mas é sempre assim e você sabe muito bem que é, depois que você passa a se matar e ferir, você não percebe mais as pessoas de boca aberta pela rua ou tão somente não percebe as pessoas que sangram pelo prazer do saber o sangue sempre ali. Então é por isso minha Querida querida? Que você não se mata, não sangra nem fere? Só porque queres saber o rumo do sangue e a sujeira da rua? Eu entendi minha Querida, que você não se mata porque já está morta.

ap.

Um comentário:

sem coerência,