quarta-feira, 30 de junho de 2010

Caleidoscópio

Ontem nós nos vimos e não foi de todo mal. O mar estava calmo e aquele barulho das folhas dos coqueiros é o meu favorito, já eram bem umas quatros horas da tarde, mas as pessoas daqui só fumam depois das dez, por isso estávamos pensando no que fazer ali enterrando os pés na areia úmida e clara da praia. Como teria sido a ultima vez em que eu entrei no mar? Eu me perguntava ora de olhos abertos ora de olhos fechados, não lembrava de forma nenhuma, devia fazer muito tempo mesmo, poderia sim claro, lembrar o ano ou em qual das férias de verão, mas não me passava na mente lembrar apenas disso, um dos momentos mais desesperadamente taciturnos que nós temos é não lembrar da alegria e quase sempre não lembramos mesmo. Não, eu não ia catar conchinhas e não ia caminhar, eu não voltaria na casa pra pegar uma bola e não estava nem um pouco afim de um sorvete. Enterrar meus pés na areia não estava de todo mal. E se você quer saber o silêncio também não era nada mal. Mas havíamos feito um esforço pra sair do cobertor quente de gente preguiçosa em praia, vestir qualquer roupa, esquecer as sandálias e descer até onde o vento bate mais forte, até onde a visão é mais limpa. Havíamos feito isso para chegarmos a algum lugar, e chegando a algum lugar achamos que precisávamos procurar por algo e somente procurando dentro de nós mesmos é que acharíamos. Dito e feito.

ap.

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sem coerência,