segunda-feira, 31 de maio de 2010
101
ap.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
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E o que havia entre minhas pernas até um dia atrás se foi feito poeira quando bate um vento no piano, vai embora e some. Some. Mas é porque era um desejo sujo, medíocre. Essa parte suja do desejo que me fazia bambolear, me deixava louca até arrancar todos os fios do cabelo. Era assim mesmo, acredite. Tudo estava indo de um jeito pirado até o fundo do poço, eu estava mesmo caindo? Ah, mas foi só porque tropecei numa pedra logo a beira do poço. Essa pedra acabou caindo dentro do meu sapato, e eu no poço com o sapato. Sapato, pedra, poço.
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terça-feira, 25 de maio de 2010
Votos de casamento
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Diástole
Essa eterna diástole. Acredite, é eterna. O tempo parou, minha mão rebolou pelo vento e fui até sua casa, o caminho nem parecia escuro, visto que antes eu sempre precisava de algo para iluminar, uma lanterna, uma lamparina, o que fosse. Via agora o caminho todo, e as cores até mudavam, algumas vezes estava laranja, outras vezes azul, gostava dos dias em que estava azul, me lembrava o céu ou alguma pintura de livros infantis. O que eu quero que você entenda é que o céu do caminho até sua casa era iluminado, não o caminho em si, mas o céu. Isso não é delirante? A dádiva de algo supremo fez com que eu enxergasse tudo até sua casa. E até quando estava quase lá, passava pelo jardim e parava por alguns minutos tentando em sorte ver um vaga-lume, ver outra vez. Mas sabe... Eu parecia ter só azar, que parecia não acabar. E foi quando num caminho azul no minuto sete, parada em frente ao jardim já quase sem esperanças, já pensando pronunciar a palavra mais suicida possível: Adeus. Foi nesse minuto que eu vi um brilho discreto e alucinante, algo de outro mundo, nosso mundo, um vaga-lume no jardim passeando pela grama verde azulada. E então quero que você pense...
Pergunte-se porque eu ia a tua casa sempre à noite, pergunte-se.
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sábado, 22 de maio de 2010
Estrangeiro
E é o que estranho quer dizer. Estranho quer dizer estranho.
Na malícia de encontrar um sinônimo encontro a decepção. Sinônimos não existem, sempre querem dizer a mesma coisa, como rodear um circo de estranheza. Circo estranho, estranho circo. Dá no mesmo. Mudamos as palavras, escondendo as verdadeiras, escondendo-as bem atrás de um circo de estranheza. Circo esse que por ser tão estranho é estranhamente um circo inexistente. Colocando ênfase a cada sinônimo que procuro. Que é o que estranho quer dizer.
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sexta-feira, 21 de maio de 2010
Levavam...
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quarta-feira, 19 de maio de 2010
Porque eu sou poucas palavras
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domingo, 16 de maio de 2010
Nós somos íntimos sem ser
- Beijo.
- Espera.
- Que...
- Você me conhece?
- Claro.
- Quem eu sou?
- Eu não sei.
- Você me conhece?
- Claro.
- Quem eu sou então?
- Você é você.
- Não tem outra resposta melhor?
- Tenho.
- Me beija.
- Não.
- Por que?
- Porque eu tenho outra resposta melhor.
- Saber que uma resposta melhor existe em seu ser basta.
- Basta?
- Me beija.
- Beijo.
- Espera.
- Que...
- Eu não o conheço.
- Eu achei que sim.
- Pois é... Não.
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sábado, 15 de maio de 2010
Cannabis
- Quero sentir o doce do cheiro.
- Tem um isqueiro?
Porque você sempre entende muito mau o que eu falo.
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sexta-feira, 14 de maio de 2010
Quinta-feira 12
Começar a devorá-la por abrir primeiramente e tirar o delicado recheio, comê-lo e depois com um olhar desolador engolir as outras duas partes que sobraram secas e duras. Poupe-me, é ridículo e sim, estou desmerecendo os que fazem. Inclusive eu. Porque todos optam pelo caminho mais curto, sem mais demora, sem mais esforço. Caminham certo e quando se deparam com o atalho, pisam na grama, passos longos para que ninguém perceba. Poupe-me, é ridículo e sim, estou desmerecendo os que fazem. Inclusive eu. Porque todos gostam de tapar o sol com a peneira, fazem de qualquer jeito, moldam o que já não precisa ser moldado, reparam problemas irreparáveis, perdem tempo com choros inconsoláveis, fazem o que não deve e quando devem não pagam. Poupe-me, é ridículo e sim, estou desmerecendo os que fazem. Inclusive eu. Porque todos sempre gostam muito mais de confundir, a luz no fim do túnel na verdade é sempre um farol do carro preparado para te atropelar. Poupe-me, é ridículo e sim, estou desmerecendo os que fazem. Inclusive eu.
Quebrei eu mesma o outro farol, e foi só pra te confundir. Talvez era mais de meia noite quando passei pelo túnel deixando seu corpo inerte.
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Volta
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quinta-feira, 13 de maio de 2010
...
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Para um dia ruim que foi bom
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Tente
- Porque um beijo?
- Porque é o que as pessoas fazem quando querem ficar juntas.
- Você não é como todos.
- Então sou o que?
- Apenas diga algo diferente.
- Mas eu quero te beijar.
- Tente.
- Passaria longe da sua boca. Consumiria o seu ser. Tentaria entende-la como a uma obra prima. Adormeceria com o cheiro de tinta que você emana.
- Faça.
- Você não está aqui.
- Eu até esqueci.
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quarta-feira, 12 de maio de 2010
Canelas, caneladas
Venha envolto num papel transparente e te chamarei de canela.
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terça-feira, 11 de maio de 2010
Passos para sair da minha vida
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segunda-feira, 10 de maio de 2010
Preciso de sinônimos para me esconder
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sábado, 8 de maio de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Mania de "pôr-do-sol"
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Caio F. Abreu.
-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Por engano
Já são mais de três chamadas que perdi tentando acha-lo, o telefone. Entrei em quase todos os cômodos do apartamento, quando lembro... Cozinha. Chego rapidamente ao aparelho, tiro-o do gancho e sem mesmo escutar ou irromper com um alô ele começa a falar:
- Eu... Eu estava pensando em ir aí... Pois é. Eu preciso dizer, não importa mais, antes que você vá, antes que, tudo acabe pra você, eu preciso dizer que... Só espere um minuto e eu logo estarei na soleira da sua porta.
E antes que eu pudesse ao menos pensar em fazer algo, pensar em dizer que aquele não era mais o telefone de quem ele pensava ser, que era um incrível engano, que aquele homem já tivera seu coração partido, desde uma semana atrás quando a antiga moradora de meu atual apartamento se fora para bem longe, quem sabe. Antes que eu tomasse alguma posição, ele desligou. Sem ação, recoloquei o telefone no gancho, encostei-me na parede. Talvez ele desistisse no meio do caminho e desse uma meia volta. Talvez ele morresse no caminho, talvez ele decidisse pular de uma ponte pelo caminho. Mas talvez, só talvez ele viesse. E ele veio. Eu não sei nem quando, nem como, muito menos quem. Não sei quem começou. Só sei que demos início aos nossos encontros. Na soleira da porta, eu ouvinte, ele coração aberto. Sempre pensou que eu era Ela e eu sempre imaginei que ele era Ele.
ap.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Napoleão
Sempre ás seis horas da tarde eu o encontrava em seu ateliê. Sempre ás seis horas o encontrava com um humor distinto. Sempre ás seis horas estava com saudades dele. Sempre ás seis horas ele estava exausto, frustrado, inerte, risonho... Era um artista e artistas não são questionados. Gostava de ficar lhe espiando enquanto a tinta era jogada violentamente contra a tela, ele não percebia isso para minha sorte. E era sempre assim, sempre ás seis horas da tarde eu finalmente entrava na sala, tocava de leve suas costas, apreciando as manchas de tinta em lugares improváveis. Ficávamos ali por um bom tempo, sempre, envoltos num silêncio agradável.
Não sabia ao certo explicar sua arte, mas sempre soube que tinha algo a ver comigo. Até mesmo por parte da ferocidade com que a tinta era aplicada a pintura abstrata, me fazia lembrar de seu olhar vulgar em certas noites, a astúcia que me envolvia por completo me levava noite adentro. A própria utopia da obra me lembrava o desejo de sermos eternos um para o outro. Via-me na tela ainda branca equilibrada em seu tripé de madeira, me lembrava quem eu era antes dele. Orgulhava-me, pois eu era sua musa.
AP.Vai saber...
AP.
sábado, 1 de maio de 2010
Marie Antoinette.
Depois de algum tempo frio finalmente o verão eterno chegou e foram anos de gargalhadas, anos inesquecíveis, o barulho das taças de bebida lhe enchia os ouvidos, as fichas de cores vibrantes lhe chamavam tão suavemente, os desenhos do baralho era em suma tão atraentes, a ópera era digna de aplausos e o cabelo platinado que cobria seus pensamentos e confusões era templo de expressão. E mesmo assim ela nunca para, é como um carrossel, ela pensa que girará para sempre, ela está bêbada e é só uma questão de tempo para que ela vomite no cavalo mais bonito.
E quem poderia duvidar? Quem poderia confiar? Ao som de um rock antiquado com uma taça na mão e uma máscara misteriosa ela fez o destino lhe contar os segredos do amor. Por que falar de amor quando devemos aqui falar da falta de pão? “Que comam bolo então” disse ela despreocupadamente e voltou ao seu dormitório, acompanhada é claro. Mas fatos mudam tudo e o carrossel girou mais algumas vezes, depois disso... Ela sobe por entre flores azul-realeza e amarelo-ouro, meu nome é França, dê-me um cigarro para ignorar, é a rainha assassina que está chegando.
AP.
Beirut.
AP.
Karen.
AP.