quinta-feira, 6 de abril de 2017

Age Of Aquarius

A hipocrisia me julga com frieza nos olhos porque sempre fui tão desapegada, sem rótulos eu dizia, eu sou new age. Eis que esta manhã eu acordei querendo cozinhar, colher um limão no quintal e fazer uma bela de uma marinada, chorar com muita cebola picada e sentir o prazer de jogar a cebolinha cortada em rodelinhas para finalizar o prato, eu me sinto realmente contente na parte da cebolinha. Quando acordei pensei de súbito se você lembrou-se do guarda-chuva porque amanheceu bonito pra chover. Assustei-me porque me senti tão Amélia essa manhã, veja só, uma pessoa que defende tão veemente o direito de negar qualquer trabalho doméstico, o direito de por os pés pra cima e dominar a arte de não fazer absolutamente nada, esta manhã eu acordei querendo filhos seus, querendo te segurar quando você sentir que vai cair, querendo ser sua meia nessa manhã tão molhada. Por causa de ontem à noite, nesta manhã eu faria tudo por ti, porque ontem à noite desejei como numa reza que você acordasse hoje querendo ser meu guarda-chuva, minha meia, meu copo d’água no meio da noite, minha escova de dente, meu remédio de dor de cabeça, a melhor ameixa da minha semana, aquele curativo no meu ombro que sucedeu porque minhas unhas estão muito grandes e eu não sei corta-las, nunca soube, porque sou filha única, mimada.  Desculpe-me, eu sei que você nunca vai me levar a sério, não por qualquer motivo tradicionalista, pois tenho consciência da minha dignidade. Os motivos são outros, forasteiros. A alma se descobre bela quando acariciada, e pensa em sua insipida ignorância que acariciar é simples, pensa que qualquer um se deixa acariciar, mas você é um cervo assustado e eu uma predadora atrasada. Você é a cautela e eu sou o estilhaço. Você disse que está cauteloso e eu disse meu bem, eu não sei o que é isso, porque é achando que eu nado bem pra caramba que mergulho, mas era cimento e eu só espatifei.

ap.

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sem coerência,