quarta-feira, 1 de junho de 2011

Os olhos das castanholas

“Era uma vez, uma pequena menina que de uma hora para outra se viu nas aventuras de Alice, em meio a um mundo de maravilhas, ela conversou com uma lagarta, comeu diversas coisas de formas e cores diferentes, adorava as cores ainda que seus olhos fossem a ausência delas, a menina se viu num mundo tão ligeiramente dela que de olhos fechados ela viu o mar junto às estrelas, do lado à lua, do outro o sol e todas as coisas do universo, porque para ela o mundo parecia estar diminuindo, coitadinha, o mundo já era tão pequeno. Porque também ela encontrou cada pato estranho cantando numa afinação de sino. Porque ela até não soube responder muitas perguntas. Porque tinha cada rei e rainha lhe narrando sobre as cartas estarem tão bagunçadas. Porque ali tinha cinzas e ali tinha lenha, o fogo ultimamente, não mais se encontrava naquela aldeia. [...]” Como seria nostálgico se Helena prestasse atenção, entretanto ela estava preocupada demais com os legumes que iria comprar num Allmart, logo depois de ter de entregar filmes numa locadora abafada em plena sexta chuvosa. O documentário polêmico se desenrolava na televisão pequena no fundo da loja. Praticidade é um prazer do dono: pequeno e portátil. Helena havia alugado na quarta, dois filmes, um sobre al-qaeda para Jarbas, assuntos políticos envolvendo religião o deixava tagarela. Outro sobre a vida, algo de Woold Allen. Ao sair empurrou a porta ao invés de puxar, não tinha um aviso e todos da loja lançaram os dois olhos para ela, menos um pássaro no canto junto à vitrine onde bicava sua água tranquilamente. A manhã mais parecia um entardecer e Helena se sentiu confusa sobre as horas, olhou no relógio e muitas outras vezes mais, se certificando de que era cedo demais para voltar em casa. Depois dos legumes estarem numa sacola frágil de plástico, ela andou em passos lentos até a Rua das Castanholas. Uma ótima hora para acender um cigarro, mas Jarbas estava em casa para o almoço e Helena não se sujeitaria a criticas secas com toses mais secas ainda, não nessa sexta. Chegando: Ele certamente estaria enterrado no trabalho em seu note book implacável. Helena fez um frango xadrez, depois se juntaram os dois na sala para ver poucas notícias e qualquer filme legendado perdendo-se pelos canais da TV a cabo. Estava com trinta e tantos anos. Jarbas tinha os seus trinta e mais alguns tantos. Helena e Jarbas sentavam-se todas as sextas e deliciavam a paz reconfortante para ambos, havia mais de vinte anos. Fumavam um cigarro na varanda e numa tarde calorenta e lacrimejante dormiam: o sono era como uma linha sendo costurada com elegância e destreza. Não se importavam com o dia em que haviam sem o parecer dialogado com uma lagarta, se empanturrado de pipoca e seus temperos misteriosos. Ouvido ópera num show de talentos. Deixado tantos espaços vazios nas Diretas do Coquetel. Lido crônicas pra boi dormir e claro, haviam comprado mais de um isqueiro por mês. “A questão era mesmo “o quê?”. Olhando em volta, viu as flores do mato e as folhas de capim, mas não conseguiu encontrar nada que parecesse apropriado para beber ou comer nas circunstâncias. Ali perto, crescia um cogumelo grande, mais ou menos da mesma altura que ela. Depois de procurar em baixo dele, dos dois lados e atrás, ocorreu-lhe que podia também tentar ver o que havia em cima dele. Esticou-se toda e ficou na ponta dos pés, espiando por cima da beirada do cogumelo. Seus olhos imediatamente deram com os de uma enorme lagarta azul, sentada lá em cima, com os braços cruzados, calmamente fumando um cachimbo oriental bem comprido e cheio de voltas, sem prestar a menor atenção nela nem em mais nada.”.

ap.

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sem coerência,