Era um sentimento esguio e com falta de sorte, semelhante a angustia de não se confiar a ninguém. Parada ali, ela abria a boca, mas não saia som falso nem sincero, estendia a mão que ia até um ombro alheio, mas não lhe tocava, não lhe tocaria. Recatada ali, sem som nem tato, nem o anseio de memória segura. Chorava, pois era para rirem com ela, não ria, para que ninguém gozasse dela. O velho ditado já não fazia jus ao dia. Pressentimento ruim, preocupação sem olhar a quem, ela vagava o coração em busca de alguém que precisasse de suas preces, curtas e objetivas orações sobre as quais Deus escutava calado e guardava para si sua opinião divina. Mandíbula presa, peito aberto, nariz corcunda. Tentava andar, tentava se mover, porém tudo era seca sem ti. Tudo era solidão, choro de um Buendía. Sem ti ela era triste e vaga, sem ti não existia chão, somente paredes que serviam de empecilho na visão de um horizonte. E contigo? Era mar, era prato cheio. Contigo ela sabia que nos tempos de angustia era você em quem ela pensava, se preocupava, olhava, bradava. E ela confiava em ti, amava você, retirava sua casca e você era quem você foi esse tempo todo, quem tu és hoje do lado dela, com ela, protegendo ela, acalmando ela.
Deve ter sido por isso que num desses belos dias ela saiu de casa e mala na mão para Deus sabe onde. A procura de ti, diriam uns, mas talvez fosse pela sorte de encontrar embaixo de um sino Ele, que lhe diria como rezar em pro das dádivas e em que se preocupar quando não soubesse mais que caminho tomar, que pedra carregar ou para que mão apontar. Ela havia nascido sem unhas e suas mãos eram frias e finas como as Dele e foi nesses belos dias que se encontraram e rezaram juntos defronte a qualquer coisa que obtivesse luz. Ela pediu para que seus desejos sobre os quais desconhecia o sentido, se realizassem, Ele pediu para que os desejos dela fossem atendidos, e foram. A partir daí foi só choro e reza, choro para quem te quer, reza para quem te deixa. Analuz como era chamada ficou conhecida pelas suas andanças e seu glorioso encontro com Ele, o dono de todas as plantas e cogumelos existentes. Acabou nem se preocupando mais contigo, esqueceu a angustia de não te ter, parou de te procurar. Foi então por volta dessas consequências que embaixo de chuva te encontrou, solitário, molhado, necessitando caricias, Analuz e um belo guarda-chuva grande para leva-los até a lanchonete vazia do outro lado da rua. Foram os dois correndo através dos carros, sem guarda-chuvas nem escrúpulos, molhados e novamente esguios, sentados um em frente ao outro sem dizer uma palavra, pois muito já havia sido dito com o tempo. Amaram-se eternamente e só. Ele olhando lá de cima sorria pela dádiva que entregara a terra, o amor.
ap.
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sem coerência,